Por g1 BA


Bandeira do orgulho gay erguida por membro da comunidade LGBTQIA+ — Foto: Niranjan Shrestha/AP

O Brasil teve 257 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ no ano de 2023, uma a mais que o registrado em 2022. O dado é de um levantamento feito pelo Grupo Gay Bahia (GGB), a mais antiga Organização Não Governamental (ONG) LGBT da América Latina. O número mantém o país no posto do mais homotransfóbico em todo o mundo.

As conclusões são baseadas em informações coletadas na mídia, nos sites de pesquisa da Internet e correspondências enviada ao GGB, "já que não existem estatísticas governamentais sobre esses crimes de ódio contra a população LGBT". O trabalho é realizado sem recursos governamentais, por voluntários.

O estudo admite, ainda, um índice de subnotificação, já que muitas vezes é omitida a orientação sexual ou identidade em tais publicações fúnebres. Dentro do que foi levantado, o GGB aponta que o Brasil registrou em 2023 o maior número de homicídios e suicídios da população LGBTQIA+ no planeta e das 257 vítimas, 127 eram travestis e transgêneros, 118 eram gays, 9 lésbicas e 3 bissexuais.

"Isso reflete a violência letal contra travestis e transexuais atualmente. Estimando-se que as trans representam por volta de um milhão de pessoas no Brasil e os homossexuais 20 milhões, o risco de uma transexual ser assassinada é 19% mais alto do que gays, lésbicas e bissexuais", analisou o professor Luiz Mott, fundador do GGB, o professor Luiz Mott.

O ativista reforça que, em 44 anos de pesquisa, pela primeira vez travestis e transexuais ultrapassaram os gays no número de mortes violentas.

“De igual modo é o calvário vivenciado pelos suicidas LGBT+, onde a intolerância lgbtfóbica, sem dúvida, foi o combustível e o gatilho para minar sua autoestima e desistirem de viver", afirma Toni Reis, coordenador da Aliança Nacional LGBT.

O documento explica que as lésbicas estão na categoria sexual menos vitimizada, porque "em geral, as mulheres são menos violentas que os homens e se expõem menos do que os gays em espaços de risco". Além disso, "raramente elas têm relações com pessoas desconhecidas no primeiro encontro".

Brasil é considerado o país mais homotransfóbico do mundo — Foto: Kauara Carvalho

Sobre o recorte de etnia e cor das pessoas, 60% das vítimas não possuem indicação no levantamento. Entre os que foram notificados, a pesquisa aponta os seguintes índices:

  • Branca - 14,39%
  • Parda - 10,5%
  • Preta - 10,89%
  • Não identificada - 66,2%

Apenas para 34% das vítimas há indicação da cor. Não há detalhamento, nesse âmbito, de nenhuma lésbica e bissexual assassinados. A prevalência é maior para travestis e transexuais.

Conforme a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, os LGBTQIA+ brancos como categoria isolada é majoritária com 14,39%, seguida dos pardos (10,50%) e pretos (10,89%). Se agrupados, pardos e pretos totalizam 21,39%.

Com relação à faixa etária, o estudo informa que 67% das vítimas tinham ente 19-45 anos. O mais jovem tinha apenas 13 anos: Otávio Henrique da Silva Nunes, que levou 11 facadas em Sinop (MT). O suspeito do ataque é outro adolescente.

Pelo menos 22 profissões diferentes foram identificadas entre as vítimas gays. Dentre elas:

  • 11 professores
  • 5 empresários
  • 3 médicos
  • 3 dentistas
  • 2 pais de santo
  • 1 padre

Quanto às trans, sete ocupações foram registradas: 18 profissionais do sexo, 3comerciantes, 3 cabeleireiras, duas enfermeiras, uma garçonete.

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Dados por estados

Mortes violentas de LGBTQIA+ por estado

Ordem Estado Quantidade %
1 SP 34 13,23
2 MG 30 11,67
3 RJ 28 10,9
4 BA 22 8,56
5 CE 21 8,17
6 PR 17 6,61
7 AL 13 5,05
8 AM 12 4,57
9 PA 9 3,5
10 PE 9 3,5
11 MT 8 3,11
12 PB 8 3,11
13 ES 7 2,72
14 MS 7 2,72
15 GO 5 1,94
16 MA 5 1,94
17 PI 5 1,94
18 RS 4 1,55
19 RO 3 1,17
20 SC 3 1,17
21 AP 2 0,77
22 AC 1 0,4
23 DF 1 0,4
24 TO 1 0,4
TOTAL - 257 99,2%

São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Ceará são os estados brasileiros que notificaram mais mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ em 2023, conforme o levantamento. [Veja números acima]

Entre as capitais, São Paulo aparece na lista com maior prevalência de registros, seguido por Rio de Janeiro, Manaus, Salvador e Fortaleza. [Veja números abaixo]

15 capitais mais violentas para pessoas LGBTQIA+

Capital Quantidade %
São Paulo 12 4,67
Rio de Janeiro 11 4,28
Manaus 10 3,9
Salvador 8 3,11
Fortaleza 7 2,72
Campo Grande 5 1,94
Maceió 5 1,94
Belo Horizonte 4 1,55
Curitiba 4 1,55
João Pessoa 4 1,55
Teresina 4 1,55
Porto Velho 3 1,17
Belém 2 0,77
Goiânia 2 0,77
Macapá 2 0,77
Total 83 34,24

Dados da Bahia

O estudo aponta que o Nordeste teve 94 casos de mortes violentas contra pessoas LGBTQIA+ , o que representa 36% do registros no Brasil, em 2023. A região perde apenas para o Sudeste, que detém quase 39%.

"Confirma-se a persistência da homofobia tóxica nordestina do 'cabra macho', em tempo que requer dos gestores púbicos e da população em geral uma reflexão sobre medidas efetivas que garantam respeito à vida desta população", disse Alberto Schmitz, coordenador do Centro de Documentação Luiz Mott do Grupo Dignidade de Curitiba.

Na região, a Bahia, com 22 ocorrências (8,56% dos casos do país) , está à frente de Ceará, Alagoas, Pernambuco e Paraíba, os cinco estados que concentram mais registros.

Em Salvador, foram registradas oito mortes homotransfóbicas, número que coloca a cidade no 4° lugar entre as capitais brasilerias que mais possuem mortes violentas pessoas da comunidade, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus.

Parada do Orgulho Gay no Centro de Salvador — Foto: Maiana Belo/G1 BA

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